Médico é denunciado por assédio sexual ao arrancar blusa de enfermeira

 

Foto: Material cedido ao Metrópoles

Servidores da Unidade Básica de Saúde 5, no Gama, realizaram um protesto na manhã dessa sexta-feira (13/12), para denunciar os casos de assédio sexual e moral, supostamente cometidos por um dos médicos da UBS. Segundo o grupo, a administração da unidade já recebeu inúmeros relatos, porém, nada fez.

Apenas neste ano, o profissional teria assediado sexualmente duas colegas de trabalho. Uma das vítimas, que denunciou os abusos à Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), foi afastada em outubro último, o que fez o grupo temer possíveis retaliações.

Ao Metrópoles as vítimas – que pediram para não serem identificadas – relataram que o médico é um servidor antigo da unidade, com fama de ser de “difícil relacionamento” e de ter uma série de contatos influentes na SES-DF. O profissional de saúde é Octavio Milton Saquicela Siguenza, 65 anos, lotado como médico da família e da comunidade desde 2006.

Uma enfermeira, que há cinco anos trabalhava diretamente com Octavio Milton, levou à Superintendência da Regional Sul – responsável pela administração das unidades de saúde do Gama e Santa Maria – uma denúncia, na qual descreveu ter sido, por meses, alvo de assédios e comentários de cunho sexual por parte do médico.

As investidas teriam se tornado físicas, após o médico ter arrancado a blusa da enfermeira e, em outra ocasião, a puxado de forma brusca pelo braço enquanto ela andava por um corredor. O caso também foi registrado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam I), que investiga a denúncia.

“Desde o início do ano, ele iniciou abordagens que evoluíram para importunações sexuais e tentativas de invasão de minha privacidade, como envio de presentes, cartas e exposição de minha imagem em redes sociais com conotação pejorativa. Em um um plantão na UBS 7 Gama fui abordada por um técnico administrativo cantando a música ‘Festa no apê’, do Latino. Ao questiona-lo, ele relatou: ‘Não viu o Instagram do Dr Octávio com sua foto e essa música?’. Fui para os atendimentos sem reação, constrangida” detalhou a profissional na denúncia.

“Em uma ocasião, enquanto estava deitada na maca da sala que trabalho devido a uma gripe forte, ele se aproveitou do momento para levantar minha blusa sem minha permissão, expondo-me de forma constrangedora e invasiva. Posteriormente, ele relatou o ocorrido para outros servidores. Um deles, inclusive, me procurou para comentar que o doutor teria me apalpado, o que me causou ainda mais temor e constrangimento”, completou.

Outro caso de assédio na unidade também foi relatado à reportagem. Octavio teria tentado levar a boca ao seios de uma outra servidora da unidade. Por medo de sofrer represálias por parte da gerência da unidade, a vítima não apresentou denúncia à SES ou à polícia.

Sequência de represálias
A enfermeira que apresentou as denúncias relatou, também, um estranhamento na relação com a gerência da unidade de saúde, e informou ter sido alvo de uma campanha de difamação por parte do médico. Além de alegar que a profissional teria tentado assumir a função de médica, o denunciado teria comentado sobre os assédios contra a enfermeira com outros dois funcionários da unidade, conforme consta na investigação que o Metrópoles teve acesso. O processo corre internamente, na Secretaria da Saúde.

Em outubro deste ano, a profissional assediada foi comunicada que seria transferida para outra UBS do Gama, por “decorrente de problemas interpessoais”. A servidora diz que a decisão foi “abrupta e imediata” e recorre à decisão em processo administrativo.

O protesto dessa sexta-feira contra o médico da unidade foi organizado por profissionais da UBS 5 do Gama, mas contou com apoio de mais profissionais da Região Sul. Entre elas, estava a gerente de serviços de atenção primária de outra UBS da região, que se rechaçou os assédios supostamente cometidos pelo profissional, bem como outras situações, como faltas constantes e uma série de comentários racistas e tratativas pejorativas com os pacientes.

Após esse posicionamento, a gerente relatou ter sido alvo de uma série de ameaças por parte da Diretoria de Atenção Primária à Saúde da Região Sul, como a demissão de funcionários terceirizados. Ela foi exonerada do cargo em novembro deste ano.

Respostas dos envolvidos
Acionada pelo Metrópoles, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou, por meio de nota (leia abaixo na íntegra), que a movimentação para a outra unidade teria sido realizada “em comum acordo com a servidora”, e que o médico dito como autor do assédio teria sido temporariamente movido para uma terceira unidade até a conclusão da investigação dos fatos narrados.

A autora das denúncias rebate a versão da Secretaria. Ela ainda afirmou que o médico continuaria atuando na UBS 5 do Gama, e que estaria afastado devido a um atestado médico.

A reportagem tentou contato por ligação e por mensagens de texto com o médico Octavio Milton e com a Diretoria de Atenção Primária à Saúde da Região Sul. Até a última atualização deste texto, o servidor não havia respondido às tentativas de contato. O espaço segue em aberto para eventuais manifestações.

Leia na íntegra a nota da Secretaria da Saúde (SES-DF):

“A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informa que não compactua com nenhuma forma de assédio. O caso em apuração envolve uma enfermeira e um médico de uma mesma equipe de uma unidade básica de saúde do Gama. Inicialmente, o fato foi reportado como conflito interpessoal entre servidores. Foram feitas tentativas de mediação de conflito com ambos, sem sucesso. Dias depois, foi apresentada pela servidora uma denúncia que envolveu acusação de assédio.

A gestão imediatamente levou o caso para apuração pelas unidades competentes, no âmbito da Secretaria de Estado de Saúde do DF, em processo sigiloso. Em comum acordo com a servidora, foi iniciado um processo para a movimentação da mesma para outra região de saúde. Quanto ao médico envolvido, que encontra-se em afastamento legal, foi realizada uma movimentação temporária para uma unidade de saúde no Gama, até que se conclua a investigação dos fatos narrados, pelos órgãos competentes”.

Fonte: Metrópoles

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