Reeleição: entre a continuidade e o risco de distanciamento do povo
📌A discussão sobre reeleição no Brasil sempre volta à pauta, e não sem motivo. O tema carrega implicações diretas no modo como gestores públicos conduzem seus mandatos e, sobretudo, na forma como se relacionam com a população. Há quem defenda a continuidade como oportunidade de consolidar projetos, mas também há quem enxergue nesse modelo um risco de acomodação e até mesmo de descompromisso.
Casos recentes em cidades do Rio Grande do Norte ilustram bem essa tensão. Em Pau dos Ferros, a prefeita Marianna Almeida, em meio à condução de seu mandato, nomeou a própria namorada para a Secretaria da Mulher. O episódio não apenas levantou questionamentos éticos, mas também trouxe à tona a sensação de que a gestão tem atuado como se “não houvesse amanhã”. Críticas locais apontam que a prefeita se comporta como “dona da cidade”, mais preocupada com projeções políticas para além das fronteiras municipais do que com os problemas cotidianos da população que a elegeu.
Situação semelhante é percebida em Extremoz, onde a prefeita Jussara Sales, em seu último mandato, transmite a imagem de estar mais voltada para articular sua carreira política do que em garantir avanços concretos para o município. A leitura que se faz é que, sem a pressão da reeleição, diminui-se também a obrigação de mostrar resultados consistentes à sociedade.
Esse mesmo raciocínio se estende ao plano estadual. A governadora Fátima Bezerra, em seu segundo e último mandato, já não enfrenta o desafio de buscar votos para se manter no cargo. Esse cenário gera a percepção de distanciamento, como se a necessidade de diálogo e aproximação com setores da sociedade fosse menor, uma vez que não há mais o risco eleitoral imediato.
O ponto central é que a reeleição, ao mesmo tempo em que pode dar continuidade a projetos estruturantes, também abre brechas para vícios políticos. A acomodação daqueles que já não têm pretensão de se submeter ao crivo popular pode ser prejudicial ao país.
Por isso, discutir o modelo de reeleição no Brasil é mais do que um debate acadêmico ou jurídico: é uma questão prática de governança e de qualidade da democracia. Afinal, enquanto a política se volta para estratégias de poder, a população segue cobrando o básico — saúde, educação, infraestrutura e oportunidades.
Em última análise, a reeleição deve ser refletida não apenas sob a ótica da classe política, mas principalmente a partir do impacto real que tem na vida das pessoas. Do contrário, o risco é perpetuar um ciclo em que o interesse público fica em segundo plano diante das ambições pessoais de quem ocupa o poder.
📌 Fonte: Noticias do RN